black holes and revelations #002 | as versões no decorrer da linha do tempo
passado e futuro e várias versões da mesma coisa
guess who’s back. back again.
E chegamos na segunda edição. Eu não imaginava que ia ter saco pra mandar outra dessa, mas minha cabeça ficou cozinhando uma semana tudo isso aqui e agora eu vomito essas palavras para vocês. Bom proveito ou boa sorte.
Para a conversa de hoje, temos música, viagem no tempo e um pouco de violência.
Novo single do Eminem que estou escutando em loop
Versões do passado e presente e suas personas
Várias versões da mesma coisa
May I have your attention, please
Sim, eu escuto Eminem, e muito. E não sou fã dele nem nada. O que me faz escutar é que algumas músicas tem um ritmo bem hipnotizante e que é uma das poucas músicas de adulto que meu filho não pede pra mudar no carro dizendo que é chata.
O rapper de 51 anos já partiu pra cima com seus disses (uma expressão que representa ofensas no meio das rimas e letras de músicas direcionadas para algum desafeto) Limp Bizkit, Donald Trump, Mariah Carey, Ja Rule, Machine Gun Kelly (que largou o rap e tentou o punk), Will Smith, Christina Aguilera, George W. Bush, a ex mulher, a própria mãe entre outros.
Mas não só de treta ele vive, já fez parcerias em palco ou estúdio com Ed Sheeran, Rihanna, Snoop Dogg (sei lá se escreve assim), Halie Jade (a própria filha), Dr. Dre, Kendrick Lamar, Sia, Nate Ruess (onde ele pede desculpas pra própria mãe em Headlights), Dido e Sir Elton John.
Em uma live com o ilusionista David Blane no Instagram, depois do ilusionista comer um copo de vidro, Eminem anunciou que ia fazer um truque, fazer a carreira dele desaparecer com um novo álbum. Produzido por ele mesmo, “The death of Slim Shady (Coupê de Grâce)” é o primeiro álbum que ele lança desde 2020 e já meteu seu primeiro single “Houdini” no top 2 dos EUA, essa música que estou escutando em loop.
Ame ou odeie, o fato é que o cara tá aí desde que eu era um adolescente que eu era um moleque magricelo de uns 9 ou 10 anos de idade. Enquanto muitos músicos de vários gêneros ficaram pra trás, ele continua sendo lembrado desde suas músicas mais animadas como “Without Me” até o clássico de playlist de academia “Lose Yourself”.
sometimes I wonder what the old me'd say
O clipe tem claras referências a hits do passado do rapper e uma espécie de batalha entre a versão atual e a versão de 2002 (o infame Slim Shady), no fim das contas os dois acabam se fudindo formando uma versão profana do Eminem (sempre dá pra ele piorar).
Vendo esse clipe, me trouxe um questionamento que é constante na minha cabeça cheia de doideira.
O que eu faria se encontrasse com meu do passado?
Eu sempre fico imaginando um crossover da minha versão de 15 anos e a de 20 anos com a atual. Nem incluo a de 25 porque daí pra frente foi só ladeira abaixo pra formar a figura que vos fala hoje.
É muito louco porque eu sou uma das poucas pessoas que conheço que não sou saudosista do passado. Se eu encontrasse essas duas versões, talvez eu faria igual o Eminem no clipe, ia partir pra briga, hoje sei alguma arte marcial e sou mais forte, mas a lombar deles é melhor, talvez eles me derrubassem nessa.
Hoje eu tenho dinheiro(ish) e independência(ish) e minhas ideias no lugar, não que sejam as melhores. Mas os anos e as pancadas me fizeram aprender bastante. Acho que o erro é um grande professor e realmente todo mundo tinha que ficar menos bolado ao errar. Errar faz parte, errar gera mudança.
A gente vê muita empresa punindo o erro e tratando o acerto como obrigação. Quem vai querer inovar se não tem espaço pra erros? Fica aquele ambiente que todo mundo faz o possível pra não errar mas também nem se importa em acertar se não recebe nada em troca, nem grana nem reconhecimento, muitas vezes recebe é mais trabalho. Ah o capitalismo…
Então quando reflito sobre isso, penso que seria muito mais carinhoso com minhas versões do passado em um acidente da linha do tempo que fizesse a gente se encontrar. Ou não, porque eles eram uns cuzões e eu não ia aguentar, o de 15 um ingênuo trouxa e o de 20 e poucos um arrogante insuportável preconceituoso pra caceta.
É, acho que ia dar briga mesmo.
all my sins need holy water, feel it washing over me
Eu acredito que somos frutos do meio que convivemos, mas depois de certa maturidade e conhecimento adquirido, temos total capacidade cognitiva de escolher nossos caminhos e quem queremos ser. Estou com 35 anos, não sou perfeito, longe disso, mas estou em paz com quem eu encontrei nessa época. Tenho muita coisa a melhorar, já entendi muita coisa sobre mim que não entendia. Talvez se meu eu de 40 ou 50 anos encontrasse o de hoje, ia rolar um papo muito agradável.
Então se você escolhe ser um arrombado, estando em total controle das suas emoções, sem efeitos de traumas e experiências sombrias, pelo menos tenha a decência de dizer que é porque quer, não culpe a rede social, não culpe seus amigos. Pega mal depois de velho.
Você escolhe quem quer ser.
where am I supposed to go from here? really I have no idea
Mas aí vem as personas que temos que encarnar pra levar a vida. Seja pelo meio, pelo emprego, pela família ou pelo famoso “prefiro ser feliz do que estar certo”.
Eu sou um cara introspectivo, nada a ver com timidez ou pânico social como muitos acham.
Introspecção é o ato pelo qual o sujeito observa os conteúdos de seus próprios estados mentais, tomando consciência deles. Dentre os possíveis conteúdos mentais passíveis de introspecção, destacam-se as crenças, as imagens mentais, memórias, as intenções, as emoções e o conteúdo do pensamento em geral.
Às vezes penso nas pessoas como uma espécie de “Legião” mais controlado. Pra quem não sabe, Legião é um mutante do universo Marvel que tem várias personalidades dentro de si e cada uma controla um poder diferente. Ele é foda mas não tem controle total de nada. Mas pra essa analogia, acho que nossas personas são versões diferentes do que queremos mostrar.
E cada uma delas tem um poder e objetivo nas nossas vidas. A única pessoa que sabe quem somos de verdade somos nós mesmos, das coisas mais nobres até os pensamentos mais sombrios. As personas que escolhemos mostrar para os outros, seja trabalho, família, amigos, tem um propósito social, profissional ou afetivo. E nem venha com “ain mas eu sou eu mesmo com todo mundo”. Será mesmo? Se você diz, então tá bom…
they tried to shut me down on MTV but it feells so empty without me
Enquanto eu ia construindo esta edição eu peguei uma geladeira do Linkedisney. Acho que até demorou. Passei dois dias longe daquele chorume de camisa social e que fala “brainstorming”. Faz zero diferença pra mim, não ganho dinheiro ali, já fiz um contato que vale euros literalmente, não me importo se me banirem e eu ter que fazer um CV virtual de novo, apesar de que eu ficarei puto com o trabalho.
Mas eu fui banido por uma brincadeira com uma amiga, que a moderação do Linkedisney entendeu como assédio. Ah que piada é aquela rede social…
Quantas vezes provas claras de racismo, homofobia, sexismo, assédio, machismo e todo tipo de preconceito e absurdo proferidos por lá foram denunciados e não deram em nada…
Pode perguntar pra qualquer pessoa de bom senso que já tentou denunciar. Até as própria políticas da plataforma sobre spam e crescimento artifical da rede com seus posts de “deixe seu emoji” ou “diga o emprego que quer nos comentários e espere contato de recrutadores” são ignoradas.
Uma brincadeira entre amigos é assédio.
Mas rir de uma mulher com depressão que foi demitida após licença maternidade tá liberado. Racismo e homofobia é de bom tom. Defender genocídio, family friendly. Defender PL que obriga crianças a serem mães pra não serem presas então…
how can I explain to you that even myself I'm a danger to?
Mas foda-se. Aquilo nunca foi ambiente pra pessoas como eu. Posso não ser a minha versão mais real mas estou velho demais pra fingir ser quem eu não sou pra me encaixar a padrões engomadinhos de uma rede social que pune honestidade, que as pessoas tem medo de falar as realidades do mercado de trabalho arrombado e serem marcadas com um x nas costas pelos recrutadores julgadores de plantão.
What you thought you saw ain't what you saw (nah)
'Cause you're never gon' see me
Caught sleepin' and, see, the kidnappin' never did happen (no)
Like Sherri Papini, Harry Houdini
I vanish into the thin air as I'm leavin' like
Abra', abracadabra (and for my last trick)
I'm 'bout to reach in my bag, bruh (like)
Abra', abracadabra (and for my last trick, poof)
Just like that and I'm back, bro
A esta altura desta postagem, ou me tiraram da geladeira ou me derrubaram de vez. Em ambos os casos, eu vou voltar bem inspirado a fazer o que sempre fiz.
Incomodar arrombado.
antes de ir…
🎸 já que falamos de músicas e versões, recomendo que você conheça Scott Bradlee’s Postmodern Jukebox, só releitura fera de grandes sucessos de vários estilos musicais, Smells Like a Teen Spirit é minha preferida deles
📖 Legião é um personagem mega interessante das HQs, se tiver interesse, filho do Xavier, mutante nível ômega e também tem um seriado que eu gostei bastante
☕ não tenho lá muitas recomendações de leitura porque estou afundado em leituras técnicas, mas se quiser falar de Java e Programação Orientada a Objetos, só me chamar
Recados finais:
#1 - Segunda edição e uma cacetada de gente assinou, batemos mais de 50 lendo esse lixo em uma semana. Vocês tem algum problema.
# 2 - Eu não partilho da opinião do Eminem em um monte de coisa, não me cancele. Ou me cancele, não ligo, você não paga minhas contas.
#3 - Eu falo algumas coisas que não devia e certamente podem me prejudicar, mas já dizia o poeta M&Ms: this looks like a job for me so everybody just follow me, ‘cause we need a little controversy…
É aquele negócio: a gente queria trocar nossa disposição para quando a gente era moleque adolescente, que dormia tarde, dormia 4 horas e acordava pronto pra outra como se nada tivesse acontecido. Mas a nossa cabeça e vivência jamais iríamos trocar! A mente fica mais forte e calejada com o tempo e experiência, não tem jeito, haha..
Outra coisa também é que a gente fica mais "dane-se" quando a gente fica véio, eu com 34 anos não ligo pra muita coisa que meu eu de 20 e poucos ficaria "aiin, mas se eu fizer isso vão falar de mim".. Depois de véio algumas amarras sociais se soltam.
Fala para seu filho que eu, uma Millenial assumida, o admiro muito pelo respeito ao Eminem! Ha que se respeitar! Ser introspectivo, não é ser tímido! E quase ninguém consegue diferenciar! Quem diria que nosso herói que quebra o status quo do Linkdisney seria assim? Parabéns pela segunda edição, descobri esses dias que quase ninguém chega lá!! É bem vindo de volta ao LinkedIn, precisamos de vc lá!